BLOGGER FABIO LAZARINI

domingo, 8 de dezembro de 2013

PARA GERAÇÃO NASCIDA APÓS APARTHEID,LUTA DE MANDELA É HIS´TORIA...(JOHANNESBURGO NEWS)


 Sentada na sala confortável de sua casa em um subúrbio a 45 minutos de Johannesburgo, Nokuthula Magubane, 18 anos, fazia algo que seria praticamente impensável para gerações mais velhas de sul-africanos negros: elogia o idioma africâner.

"O africâner é uma língua tão simples e bonita", ela falou. "É só relaxar, falar seu africâner e ficar feliz."
A obrigatoriedade do africâner nas escolas durante o apartheid foi uma dos estopins das revoltas estudantis de Soweto em 1976. Centenas de jovens foram mortos nos protestos, muitos deles mais jovens que Magubane.

Inúmeros outros preferiram abandonar a escola a ter aulas naquela que consideravam a língua do opressor. Foi um momento fundamental na luta contra o apartheid, e o dia do levante, 16 de junho, foi instituído como Dia Nacional da Juventude na nova África do Sul.

Mas, para Magubane, "em última análise, o africâner é uma língua, nada mais". Sentimentos como esses são comuns entre as pessoas da geração dela, conhecidas como "born frees" --nascidas em liberdade-- porque nasceram após o fim do apartheid ou pouco antes disso, sendo jovens demais para ter recordações dele.

E, embora elas com certeza conheçam Nelson Mandela, que morreu na quinta-feira, é quase impossível captarem plenamente como foi vê-lo emergir da prisão em 1990 e, quatro anos depois, tornar-se presidente do país nas primeiras eleições plenamente democráticas na África do Sul.

Os "born frees" compõem uma parte enorme da população: cerca de 40%, segundo números do censo. E seus muitos críticos entre os sul-africanos mais velhos dizem que eles são apáticos e despolitizados, sem consciência da história da luta que lhes proporcionou vida melhor.

Mas os "born frees" são conhecidos por outro nome também --são a geração Mandela-- e insistem que sua determinação de olhar para o futuro, não para o passado, é o maior tributo que podem render a ele.

"Sim, éramos oprimidos pelos brancos; sim, isso aconteceu; sim, isso doeu", disse Magubane enquanto Mandela ainda estava no fim da vida. "Mas devemos perdoar uns aos outros para que possamos ir para frente e contribuir plenamente para a África do Sul que queremos ver no futuro."

Akhumzi Jezile, 24, é produtor, locutor e personalidade de TV. Para ele, os "born frees" são vistos como apáticos porque não reagem com a mesma emoção ou em número tão grande quanto faz a geração de Soweto nas passeatas do Dia da Juventude e ocasiões memoriais semelhantes.

"Não se trata de não entender o apartheid; a questão é que enfrentamos desafios diferentes", ele disse. "Acho que a ideia de que os 'born frees' ignoram a realidade vem de uma geração mais velha que vê uma juventude que não reage como ela. Mas isso é normal. Nós não vivemos o apartheid, mas temos vibração. Lutamos por nossas próprias questões."

Ele apontou para campanhas educativas lideradas por jovens para combater os flagelos da dependência de drogas, criminalidade e Aids. "A geração de 1976 ou a geração anterior à nossa teve desafios diferentes. Não podemos falar do apartheid todos os dias, para sempre."

Muitas das atitudes dos "born frees", mas com certeza não todas, diferem nitidamente das dos sul-africanos mais velhos porque suas experiências são tão nitidamente distintas. 

Os jovens, por exemplo, têm probabilidade maior de manter relações sociais com pessoas de outras raças, revelou o Reconciliation Barometer, uma pesquisa anual de opinião pública.

De acordo com o Reconciliation Barometer 2012, "parece que muitos jovens podem não apenas estar interagindo, mas desenvolvendo relacionamentos mais profundos com pessoas das quais historicamente estariam separadas".

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