engraxate e catador de latinhas André Luís Rodrigues Augusto
Uma imponente figueira-branca com dez metros de circunferência é a casa do engraxate e catador de latinhas André Luís Rodrigues Augusto, 23. A árvore fica nas margens da avenida Radial Leste, na Bela Vista, centro de São Paulo.
Augusto não lembra direito há quanto tempo vive lá em cima, a seis metros do chão. Primeiro, diz que já se passaram "três Natais". Depois, corrige: "Foram cinco". Do motivo para evitar a rua ele se recorda bem. "Depois que picaram fogo nos mendigos da Sé, que estavam dormindo lá na praça, resolvi ficar aqui em cima. Também deram comida com chumbinho para eles. Daí eu engraxo, pego umas moedas e faço meu próprio miojo." Augusto se refere ao assassinato de sete moradores de rua do centro de São Paulo em agosto de 2004. Outros oito ficaram gravemente feridos. Não foi um caso isolado. Em maio de 2010, seis sem-teto foram baleados -cinco morreram- quando dormiam no Jaçanã (zona norte). Segundo o último censo de moradores de rua feito pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), divulgado em junho de 2010, São Paulo tem 13 mil pessoas .
ELETRODOMÉSTICO
Augusto mora numa das regiões mais movimentadas da cidade. Só no período da manhã, quase 30 mil veículos passam diariamente ao lado de residência improvisada, de acordo com dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). "Durmo tranquilo. Pode buzinar o quanto quiser, eu nem ligo", ri. Sua casa é equipada. Tem TV, partes de um colchão (com molas), travesseiros, ursos de pelúcia, objetos de higiene pessoal e alimentos. A TV não funciona, "porque ainda falta puxar eletricidade", explica. Quem passa próximo às enormes raízes da árvore pode acabar tropeçando em latinhas de cerveja, calcinhas, preservativos e bitucas de cigarro. "O banheiro? Eu vou lá em cima mesmo. Mas jamais na cabeça dos outros, eu tenho um balde." O engraxate diz ter sido jogado na lata do lixo pela mãe quando era recém-nascido. Adotado, estudou até a segunda série do ensino fundamental, mas abandonou a escola e foi parar na rua por conta das agressões que sofria da família adotiva. Augusto não possui documentação e é analfabeto. "Sou o que eu chamo de 'analfabeto puríssimo'. Não sei ler, escrever, nada."
FILHOS
O engraxate é pai de uma menina de dez anos, mas não sabe direito o paradeiro dela. Os vizinhos dizem não se incomodar com sua presença entre as folhagens. Alguns até se divertem, como o pipoqueiro Severino de Lima, 54. "Nunca tive reclamação dele", diz Lima. O pipoqueiro só fica surpreso mesmo com a quantidade de mulheres que visitam Augusto à noite. "Conheço pessoas que não conseguem trocar de mulher de maneira nenhuma, mas ele troca várias vezes. E tudo novinha e bonita", conta. Apesar de aparentemente conviver bem com sua situação, Augusto sonha em viver numa casa no campo. "Não é porque eu moro numa árvore que eu sou feliz", afirma.
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