Era quase meia-noite, uma quarta-feira chuvosa de setembro, e mais de uma dúzia de convidados de Randi Zuckerberg, a irmã mais velha do fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, lotava uma sala privativa do Japas 38, um clube de karaokê de Manhattan.
Os convidados aplaudiram quando a anfitriã ergueu uma garrafa de tequila e percorreu as mesas, servindo doses. O aroma era de cerveja chocha e molho shoyu.
Depois que o sal foi lambido, os copos de plástico virados e as fatias de limão espremidas, ela tomou o microfone e interpretou uma versão feroz de "I Will Survive".
Em agosto, Randi Zuckerberg, 29, deixou seu emprego no Facebook, do qual foi um dos primeiros 20 funcionários.
Quando deixou a companhia, ela ocupava uma diretoria de marketing. Nos dias iniciais do projeto, ela era presença constante e representava o irmão reticente nos contatos com a imprensa, ansiosa por saber mais sobre a companhia. Mais tarde, conquistou atenção (e nem sempre positiva) como cantora de uma banda formada por funcionários que costumava tocar nos eventos da empresa.
E foi dela a ideia do Facebook Live, o canal de vídeo do site social, que entre outras coisas realizou entrevistas conduzidas por executivos da empresa com Oprah Winfrey e o presidente Barack Obama.
Agora ela fundou uma empresa, a RtoZ Media, para ajudar outras companhias a aproveitar melhor a mídia social.
"Esta é a festa de lançamento de Randi Zuckerberg", ela declarou no karaokê, sorrindo.
Zuckerberg vive em uma casa alugada em Palo Alto, Califórnia, e suas ambições vão além da internet. "Quero apresentar um programa de entrevistas", ela disse, dois dias antes, no Mercer Hotel. Também quer cantar na Broadway.
E tem interesses filantrópicos: em sua passagem por Nova York, conduziu entrevistas on-line ao vivo com participantes da Clinton Global Initiative e compareceu a uma recepção de gala da ONU.
Mulheres mais velhas que servem como mentoras a aconselharam, diz Zuckerberg, a controlar o lado mais extravagante de sua personalidade, mas ela não seguiu o conselho. "Vivemos em um mundo novo, e nele uma mulher pode ser levada a sério e continuar fazendo aquilo que ama", disse.
Três semanas depois da noitada no karaokê, ela palestrou em uma conferência patrocinada pela Bolsa de Valores de Nova York. Depois viajou a Varsóvia para debater com 2.000 executivos de mídia e telecomunicações sobre mídia social.
E o espólio de Michael Jackson a contratou para apresentar um programa on-line na página do astro pop no Facebook.
"Todos os artigos escritos sobre mim até hoje me descrevem como Randi Zuckerberg, a irmã de Mark. Minha esperança é que um dia as pessoas tenham mais a dizer sobre mim", afirmou.
Zuckerberg nasceu em 1982 e passou infância em Dobbs Ferry, Nova York, uma cidade no vale do rio Hudson, a 40 minutos de Manhattan. Ela é dois anos mais velha do que Mark, e os dois têm mais duas irmãs, mais jovens.
Quando menina, ela estudou piano, mas o que queria mesmo era cantar. Matriculou-se na Universidade Harvard em 1999 e estudou psicologia depois de ser recusada pelo departamento de música, segundo ela porque sua técnica ao piano era deficiente. Mas continuou a cantar, sob o pseudônimo Randi Jayne.
Em 2002, seu irmão começou a estudar em Harvard. "Não sei se Mark e eu algum dia conversamos sobre os nossos sentimentos, mas estudamos em Harvard na mesma época e passávamos bastante tempo juntos", diz, acrescentando que "éramos bem próximos".
Ela se formou em 2003 (e o irmão abandonou a universidade sem concluir o curso). Randi se mudou para Nova York, onde foi contratada pela agência de publicidade Ogilvy & Mather, e em 2004 se tornou assistente de produção do programa "Forbes on Fox", com salário anual de US$ 32 mil.
Em 2005, Mark, que já havia trocado Harvard por Palo Alto e obtido US$ 12,7 milhões em capital para o Facebook, a contratou. "Ele ligou para nossa mãe e disse que estava preocupado porque minha carreira parecia empacada", conta Randi.
"E depois me convidou para ir à Califórnia e disse achar que eu gostaria de lá." O irmão lhe mandou uma passagem e, durante sua visita à empresa, pediu sua opinião sobre o design do logotipo do Facebook.
"Eu nunca tinha sido convidada a tomar uma decisão", disse Randi Zuckerberg, acrescentando: "Logo me entusiasmei com a coisa".
Na última noite de sua visita, ela foi ao escritório do irmão para negociar sua contratação. Mark, então com 21 anos, estava sentado à sua mesa e entregou uma folha de papel à irmã com duas linhas escritas.
A primeira informava o seu salário, e a segunda, o número de opções de ações que receberia. Ela rabiscou as opções de ações, dobrou o valor do salário e devolveu a folha. "Ele apanhou o papel e escreveu de novo a oferta original", ela conta. "E me disse para confiar nele, e que eu na verdade não queria o que achava querer."
Ela começou na empresa como executiva de marketing, mas não mencionava muito o fato de que era irmã do presidente.
A conexão com o irmão teria bastado para chamar a atenção do vale do Silício, mas seu lado artístico não queria ficar na sombra. Em 2007, ela produziu um vídeo musical amador que circulou bastante, no qual satirizava a cultura das novas companhias do vale do Silício, e logo começou a tocar nos eventos da empresa.
"Randi sempre batalhou para o Facebook não se tornar um Google", disse Chris Kelly, antigo vice-presidente de questões de privacidade do Facebook.
Mas ela de vez em quando emitia notas dissonantes. Em sua festa de despedida de solteira, em 2008, no Hard Rock Hotel de Las Vegas --ela se casou com Brent Tworetzky, executivo do Chegg.com, um serviço de locação de livros didáticos, e os dois têm um filho de cinco meses,
Asher--, sua amiga Julia Allison, figura conhecida na internet, gravou um vídeo que mostrava Randi rebolando em um maiô branco justo à beira da piscina, usando uma tiara e um boá cor-de-rosa e dublando a canção "Chapel of Love".
Allison postou o vídeo on-line, que valeu muita zombaria para a amiga.
"Creio que no começo eu era um pouco irresponsável com a minha criatividade", diz Zuckerberg. "Não pensava muito em desenvolver minha marca pessoal ou em minha responsabilidade para com a empresa."
Se isso causou insatisfação ao irmão, ela diz que ele nunca tocou no assunto. Mas conta que ele expressou sua ira por um vídeo que ela postou em maio de 2009, no qual discutia a recepção menos que calorosa ao Facebook na convenção nacional do Partido Republicano.
"Mark não gostou disso e conversou comigo a respeito", ela diz.
A despeito desses tropeços, ela desenvolveu ou supervisionou muitos projetos de mídia e política ambiciosos para o Facebook. Em janeiro de 2009, a empresa e a CNN formaram uma parceria, e o discurso de posse do presidente Obama foi transmitido ao vivo via Facebook.
Zuckerberg foi indicada ao prêmio Emmy pela série "Vote 2010", da rede de TV ABC, que permitia aos usuários do serviço acompanhar a cobertura das eleições do ano passado no Facebook.
Ela diz que saiu "um pouco do esquadro" no ano passado e montou um estúdio improvisado em uma salinha na sede da empresa para gravar entrevistas com visitantes que atraíam o seu interesse.
Isso a levou a conduzir entrevistas on-line ao vivo para o Facebook em diversos eventos, entre os quais o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, onde entrevistou o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair.
"Se eu tivesse informado o comando da empresa sobre o conceito ou a teoria, eles teriam recusado", diz ela. "Quando as pessoas perceberam o que eu estava fazendo, era tarde demais."
No começo deste ano, ela diz que começou a perceber que muitos dos projetos que propunha estavam sendo entregues a outras equipes para que os administrassem, sem a sua anuência. "Isso foi um pouco frustrante", conta, e acrescenta que não discutiu a situação com o irmão.
Mas, à medida que o Facebook se tornava mais burocrático, o espaço para uma personalidade como a dela parecia diminuir. "Para mim, tentar manter a discrição sempre foi muito difícil", conta.
Por isso, ela decidiu pedir demissão. E conta que recentemente aconselhou Arielle, sua irmã mais nova, que trabalha para a Wildfire Interactive, uma companhia de software de Redwood City, Califórnia, que não deveria trabalhar para o Facebook antes de estabelecer reputação própria.
RAIO X RANDI ZUCKERBERG
IDADE
29 anos
EMPREGO ATUAL
Executiva-chefe da RtoZ Media
GRADUAÇÃO
Psicologia em Harvard
CASADA COM
Brent Tworetzky, executivo do Chegg.com
MORA EM
Palo Alto, na Califórnia