Na emoção do primeiro encontro, Alessandra é amparada pelas filhas. (Foto: Vanessa Vasconcelos/G1)
Copeira foi separada da mãe pelo pai aos nove meses de idade.
Encontro aconteceu via internet, nas sedes da TV Rondônia e TV Amazonas.
Vinte e sete anos depois de ter sido separada da mãe, quando tinha apenas nove meses de vida, a copeira Alessandra Teles Barbosa pode vê-la pela primeira vez, em um encontro virtual, realizado na tarde desta sexta-feira (21), na sede da TV Rondônia, em Porto Velho.
Vivendo na companhia das duas filhas, Alessandra não sabia o paradeiro de nenhum parente nem mesmo do pai, que a deixou morando com amigos há 17 anos e nunca mais voltou. "Foi um presente de Natal", disse a jovem sobre o encontro virtual com a mãe, que estava do outro lado do monitor na sede da TV Amazonas, em Manaus.
A história de Alessandra parece ter saído das telas de cinema ou de um livro, o que ela revela ter a intenção de escrever. Quando tinha nove meses, Alessandra foi separada da mãe, Ducirene Teles da Cunha, e foi criada pelo pai e uma madrasta. A história que ela conhecia, a contada pelo pai, era a de que a mãe a espancava e por isso o pai havia afastado as duas.
Aos dez anos, Alessandra conta que o pai foi para o garimpo e a deixou na casa de um casal que ela nunca tinha visto na vida. “Meu pai disse que ia ganhar muito dinheiro e que ia voltar para me buscar, mas nunca voltou”, conta.
Com 12 anos, o casal se mudou para o interior de Rondônia, e deixou Alessandra com outra família. Foram alguns anos de idas e vindas até que, com 15, a jovem foi morar e trabalhar de empregada doméstica na casa de uma família. “Lá eu fiquei até os 17 anos, quando me casei”, conta Alessandra, que viveu oito anos com o marido e teve duas filhas. “Ele bebia muito, me batia, e então resolvi me separar”.
Há três anos Alessandra trabalha em um escritório de advocacia, onde conheceu advogada Ana Paula Paixão, peça fundamental nessa história de reencontro.
Ana Paula conta que Alessandra sempre falou da vontade de conhecer a mãe, vontade que se tornou coletiva. “Passou a ser uma vontade nossa também, você imagina viver sozinha, sem ter um parente por perto?”.
A primeira pista veio através de uma pesquisa do sobrenome de Alessandra na internet, onde foi localizado um processo de uma pessoa com o mesmo sobrenome. “Descobrimos que se tratava de um tio de Alessandra, que morava em Guajará-Mirim [RO], pois o nome dos pais dele eram os mesmos que constavam no registro de nascimento de Alessandra, como sendo seus avós”, relata Ana Paula.
Um advogado do escritório foi até a cidade, a 330 quilômetros de Porto Velho, onde o tio e o avô residem. Lá, foram informados de que Dulcirene teria ido morar em São Paulo e era funcionária pública. Daí, foram mais pesquisas, até descobrir que ela, na verdade, estava morando em Manaus.
O primeiro contato foi por telefone, na sexta-feira (14), quando a mãe contou à Ana Paula que Alessadra foi tirada pelo pai, a força, pois o mesmo não aceitava a separação. “Minha mãe contou que ele ameaçou ela com um facão, caso ela não me entregasse”, relata Alessandra. A história foi confirmada por vizinhos da época.
O primeiro contato visual aconteceu na sexta-feira (21), através de uma chamada de vídeo, e mãe e filha não controlaram a emoção. Elas nunca tinham se visto, nem mesmo por foto.
Dona Dulcirene pedia que a filha perdoasse o pai pela separação, mas Alessandra diz que, apesar de tudo, não tinha raiva dele e que o pouco tempo em que passaram juntos, ele foi um bom pai.
Do outro lado da tela, Alessandra apresentava à avó as filhas, Ágatha, de quatro anos, e Iasmim, de sete. “Como vocês são lindas, vovó já ama muito vocês”, declarava Dilcirene, emocionada.
Do outro lado, a mãe mostrava fotos dos quatro irmãos de Alessandra, um dele falecido há três meses. “Você foi a única menina, a princesinha da mamãe”.
Sobre a emoção do momento, dona Dulce diz não ter palavras para expressar. “Sabe o tamanho do mundo? Hoje ele tá pequeno pra minha felicidade”. Para Alessandra, um presente de Natal. “É o dia mais feliz da minha vida, mais uma vitória que Deus me deu”, disse emocionada.
O encontro das duas deve acontecer nos próximos dias. Na conversa, a mãe de Alessandra contou que seu patrão havia se comprometido em comprar as passagens da filha e das netas. A liberação do trabalho pelo tempo necessário também foi garantida pela chefe de Alessandra.
Sobre qual vai ser a primeira reação no encontro, Alessandra declara: “Eu vou abraçar e beijar muito”.
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