Se "Parque dos Dinossauros" (1993) fosse filmado hoje, um novo som poderia ser adicionado aos urros e passadas dos dinossauros: o cricri de um grilo jurássico.
Um grupo de cientistas conseguiu reproduzir em laboratório o canto de amor de um tipo de grilo que viveu há 165 milhões, em florestas das atuais China e Mongólia.
O bicho, de cerca de 7 cm, produzia um poderoso som para atrair suas fêmeas para acasalamento batendo os "dentes" das suas asas, como duas paletas musicais.
É mais ou menos a mesma técnica usada pelos grilos de hoje em dia. Só que os insetos atuais são menores e produzem o som com os pelos das asinhas.
A descrição da pesquisa que levou à gravação do canto do "avô" dos grilos e gafanhotos, cuja espécie foi batizada de Archaboilus musicus, está na última edição da revista "PNAS".
O feito foi possível graças a fósseis superconservados do grilo. Esses fósseis guardavam detalhes, visíveis em microscópio, até das asinhas dos bichos jurássicos.
O estudo da anatomia dos grilos fossilizados permitiu visualizar os "dentes" nas asas, que produziam o canto.
Os pesquisadores, então, compararam essa estrutura com 59 espécies de grilos e gafanhotos que vivem hoje em dia e analisaram o som que cada um deles emite.
CRICRI NA FLORESTA
Depois, o grupo --composto por paleontólogos, especialistas em evolução de insetos e em acústica-- reproduziu o ambiente em que viveram os grilos há 165 milhões de anos, composto basicamente por araucárias.
Isso foi necessário para que os especialistas compreendessem como o som repercutia pelo ambiente --afinal, o canto do grilo precisava ser ouvido pelas fêmeas.
"A descoberta indica que a comunicação por canto já era usada por animais desde o período Jurássico médio", comentou Daniel Robert, da Universidade de Bristol, no Reino Unido. Ele é um dos coordenadores da pesquisa, feita com cientistas chineses.
O canto dos grilos é importante para o macho, pois indica à fêmea onde ele está e mostra suas habilidades.
A reprodução do canto do grilo jurássico pode elucidar questões importantes sobre a evolução das espécies.
Por exemplo, os cientistas acreditam que a emissão de sinais ultrassônicos pelos morcegos --que podem ser ouvidos pela fêmea, mas passam despercebidos pelo predador-- foram uma resposta evolutiva desenvolvida cerca de 100 milhões de anos depois da época em que viveram os grilinhos jurássicos.
De acordo com o entomologista Eduardo Fox, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o estudo da bioacústica, usando microscopia eletrônica e comparação com espécies atuais, está ganhando espaço na ciência.
"Insetos são importantes modelos de estudo de evolução. Eles são bem diversos, deixaram muitos registros fósseis e são fáceis de manipular em laboratório."
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