Com grama inédita no Brasil e comum em locais
muito frios, Arena Corinthians usa sistema de R$ 1,5 milhão para fazer a
bola rolar no jogo entre Brasil e Croácia
A Arena
Corinthians preocupa a Fifa. Palco da abertura da Copa do Mundo, o estádio sofreu o
baque do acidente com parte da cobertura, que atrasou a obra em novembro, e
agora vive o impasse das estruturas provisórias, cuja conta ninguém quer pagar.
Em meio a tudo isso, o gramado que vai receber Neymar, Oscar, Modric e
companhia, no dia 12 de junho, é cuidado com uma equipe de plantonistas
diários, uma parafernália bastante cara e toda atenção a um tipo de plantio
inédito no Brasil.
Pode se
chamar de "ryegrass", "lollium perene" ou, simplesmente, "grama de inverno". Ela já é
usada em estádios das regiões sul e sudeste do país, mas apenas sobre a
"bermuda", tipo de grama tradicional do Brasil, e nas épocas mais frias do ano.
No estádio do Corinthians, será o único tipo implantado e vai perdurar pelo ano
todo.
O ineditismo exige uma série de precauções para que nada dê errado na
Copa, inclusive uma drenagem a vácuo, já utilizada em outros estádios, mas que se adapta melhor a esse tipo de gramado.
Funcionário opera máquina que faz furos para o tratamento do gramado da Arena Corinthians
Tapete: gramado da Arena Corinthians vai receber Neymar, Oscar, Fred e companhia
Pedro Reis é
o engenheiro agrônomo que passa de seis a oito horas diárias supervisionando
absolutamente tudo que diz respeito à grama da arena. Rogério e Fábio trabalham
em sua equipe. No dia em que a seleção brasileira entrar em campo para abrir o
Mundial, a temperatura da grama vai precisar estar entre 15 e 21 graus, sua
altura de 22 a 25 milímetros e as listras em tons de verde alternados, entre
outras exigências da Fifa.
Para isso,
um sistema de refrigeração de equipamentos enormes, que custou cerca de R$ 1,5
milhão, é ligado todos os dias. Ele fica sob o gramado e, curiosamente, não vai
funcionar na Copa. Por quê?
- Ele foi
projetado para épocas mais quentes. Agora, por exemplo, ele está mantendo a
temperatura do gramado uns dez graus abaixo da temperatura do ambiente. Antes,
já chegou a estar 39 graus.
Você vê a grama morrer nos seus olhos. Mas a ideia
é que, de maio a setembro, com temperaturas mais amenas, ele nem seja
utilizado. Essa é a época em que a grama atinge seu auge - explicou Reis, da
World Sports.
Esse sistema
faz circular água e ar gelados por meio de dutos chamados de "serpentinas", por
baixo do gramado. Oito sensores espalhados pelo campo fornecem, em tempo real, sua
temperatura, umidade e salinidade. Na manhã desta quarta-feira, durante visita
da reportagem, eram 18 graus, em média.
Mesmo no
inverno, é provável que o ar seja lançado (a uma velocidade de 150km/h) na
grama da Arena Corinthians.
- Isso faz
com que haja uma troca de ar entre o solo e a atmosfera. Ajuda, inclusive, no
combate às doenças - disse André Amaral, outro engenheiro agrônomo da empresa
contratada para implantar o gramado no local.
A equipe "concentrada"
no estádio revisa diariamente o campo com olhos de lince. Enquanto caminhava,
Pedro Reis localizou um pequeno tufo de grama em coloração diferente. A grande
preocupação em atacar as doenças logo no início também está com o visual.
- A reunião
de água e calor é um prato cheio para doença, mas se ela aparece numa lavoura,
por exemplo, você aplica o remédio. Aqui, se não tomarmos medidas preventivas,
de um dia pro outro pode aparecer uma mancha gigante e o visual é importante.
São duas
justificativas para a escolha da grama de inverno. Uma diz respeito à grande
área sombreada do campo de jogo. Os agrônomos afirmam que esse tipo de piso
precisa de menos luz. Mesmo assim, outro aparelho bem grandioso está pronto
para ser utilizado. É o sistema de iluminação artificial, que usará energia
elétrica.
A outra
razão, entretanto, é a que mais interessa à seleção brasileira. Comum na
Europa, a ryegrass permite um jogo mais veloz, bonito. A bola rola melhor. Ao
menos é o que garante Pedro Reis. Nas próximas semanas, inclusive, ele vai
viajar ao Velho Continente para aprender com quem está acostumado a usar a
grama de inverno como lidar com os dias anteriores e posteriores aos jogos.
VISÃO GERAL DO ESTÁDIO APÓS CONCLUSAO
A grande
área, por exemplo, tem atualmente alguns pequenos buracos, oriundos do treino
do Corinthians no último sábado. Nada preocupante em longo prazo, mas os
engenheiros sabem que o intervalo entre as partidas da Copa do Mundo será
pequeno.
Até por isso, eles comemoram a intenção de Andrés Sanchez de levar a
equipe para fazer atividades no estádio duas vezes por semana.
- Será bom
para ver como o gramado se porta - disse Amaral, que também garante seu bom
estado para a partida entre Corinthians e Flamengo, marcada para inaugurar em
jogos oficiais a Arena Corinthians no dia 27 de abril.
- Se quiser
fazer jogo hoje, dá pra fazer.
Tudo é tão
novo que ainda falta experiência no manejo. Uma máquina que custa R$ 250 mil,
por exemplo, demorou a funcionar, mas passeou por todo o gramado. Ela faz furos
na superfície e será usada após cada partida da Copa para causar uma sensação
de maior maciez aos jogadores.
O contrato da World Sports com o Corinthians vai
somente até a competição da Fifa, mas é possível que a falta de experiência do
clube com a grama de inverno prorrogue o compromisso. No total, já foram gastos
mais de R$ 2 milhões. A manutenção mensal será de cerca de R$ 90 mil.
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