O serviço militar é obrigatório para os homens na Turquia, e eles são dispensados se forem doentes, portarem deficiências ou se forem homossexuais. Mas provar a orientação sexual pode ser humilhante.
"Me perguntaram quando tive relações sexuais anais, sexo oral e com quais tipos de brinquedos eu brincava quando criança", disse Ahmet, um jovem na casa dos 20 anos de idade.
Ele disse aos comandantes militares, na primeira oportunidade após ser convocado, que era gay. Ele e outros foram então submetidos a testes de sanidade.
"Eles me perguntaram se eu gostava de futebol, usava roupas femininas e perfume. Eu não havia cortado a barba havia uns dias e me disseram que eu não parecia como um gay normal", disse Ahmet.
Pediram que mostrasse uma foto dele vestido de mulher.
"Recusei o pedido e fiz outra oferta. Uma foto minha beijando outro homem", afirmou.
Ahmet espera conseguir com isso o "certificado rosa", que o declarará homossexual e o livrará do serviço militar.
PROVAS
A presença de gays vem sendo cada vez mais notada nas grandes cidades turcas nos últimos anos. Cafés e clubes com uma clientela abertamente gay existem em Istambul e uma grande parada gay ocorre no verão, a única em um país predominantemente muçulmano.
Mas enquanto não há leis específicas contra homossexuais na Turquia, homens abertamente gays não são aceitos nas Forças Armadas.
Gokhan, que teve que se submeter à "prova" de orientação sexual ao final da década de 1990, disse ter percebido rapidamente que não havia sido feito para o Exército.
"Tinha medo de armas", diz ele. Gokhan fala que tinha medo de ser maltratado e, após uma semana, teve coragem de declarar sua orientação sexual ao comandante.
"Me perguntaram se eu tinha alguma foto. E eu tinha", afirma.
Ele havia se preparado com fotos explícitas de si mesmo fazendo sexo com outro homem, tendo ouvido que seria impossível de outra forma escapar do serviço militar.
"O rosto deve ser visível. E as fotos precisam te mostrar como o parceiro passivo."
As fotos foram o suficiente para convencer os médicos militares e Gokhan recebeu seu "certificado rosa" e a isenção do serviço militar. Mas diz que foi uma experiência terrível.
"E ainda é terrível. Porque alguém tem essas fotografias. Elas podem ser mostradas na minha vila, aos meus pais e parentes", diz ele.
Homens gays dizem que as provas que são pedidas a eles dependem do humor dos médicos militares ou dos comandantes. Por vezes, em vez de fotos, eles são submetidos a "testes de personalidade".
ÉTICA
O Exército turco não respondeu ao pedido de entrevista da BBC, mas um general aposentado, Armagan Kuloglu, aceitou comentar o caso.
Homens abertamente gays no Exército causariam "problemas disciplinares" e seria pouco prático mantê-los, com a necessidade de construção de "instalações separadas, como dormitórios, banheiros e áreas de treinamento".
Ele diz que se um homem gay mantém em sigilo sua orientação sexual, um eco do procedimento há pouco abandonado nos EUA, ele pode servir.
"Mas quando alguém chega dizendo ser gay, o Exercito precisa se certificar de que ele é mesmo o que diz ser e não alguém tentando se livrar do serviço militar", afirma.
Mas a situação causa mal-estar entre os médicos.
"Médicos sofrem grande pressão de seus comandantes militares para diagnosticar homossexualidade e eles obedecem, apesar de não existirem mecanismos para detetar a orientação sexual", diz um psiquiatra que trabalhou no passado em um hospital militar.
"É clinicamente impossível e nada ético", afirma.
O "certificado rosa" de Gokhan afirma que ele tem "desordem psicossexual" e, ao lado, em parênteses, "homossexualidade".
O serviço militar é obrigatório na Turquia para todos os homens com mais de 20 anos de idade, dura 15 meses para quem não é formado e 12 para que é.
Os hospitais militares turcos ainda definem a homossexualidade como uma doença, adotando uma versão de 1968 da Associação Psiquiátrica Americana como guia.
Alguns na Turquia dizem com ressentimento que os gays têm, na realidade, sorte por ter pelo menos uma rota de escape do serviço militar e não correm o risco de serem enviados para lutar contra militantes curdos.
Mas para homens abertamente gays, a vida pode ser difícil.
Mas não é incomum para os empregadores turcos verificarem o histórico militar dos potenciais candidatos e um "certificado rosa" pode significar rejeição.
Um dos empregadores de Gokhan descobriu o documento ao entrar em contato diretamente com o Exército.
Ele passou então a sofrer intimidações. Seus colegas faziam comentários jocosos e outros se recusavam a conversar com ele.
"Mas não tenho vergonha. A vergonha não é minha", diz ele.
Ahmet ainda espera pela resolução de seu caso. O Exército adiou a decisão sobre o certificado rosa por mais um ano.
O jovem diz que é porque ele se recusou a vestir roupas de mulher. E não sabe o que esperar quando aparecer novamente no local.
Ele diz que não poderia simplesmente cumprir suas obrigações militares em sigilo.
"Sou contra todo o sistema. Tenho uma obrigação com a nação e eles devem me dar uma alternativa não militar", afirma ele.
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